Manual do Estrolopitéco:

 Não nego que, a principio, a intenção tenha sido boa. Mas a sua repetição pelos anos, gerações, décadas, linhagens inteiras, repercutiu numa certa ingenuidade de poder masculino- de que o homem é que manda para que a mulher pudesse mandar em casa.

Já de si, a ideia está errada. Não me parece sensato deixar alguém que não eu mandar no único espaço onde estou 100% em controlo e deixarem-me 100% em controlo de um espaço que não deriva com a minha dominância. É um pequeno paradoxo que revela uma grande falta de planeamento de uma meritocracia. Se mereço assim tanto mandar, que mande no que é meu em primeiro lugar, depois vou mandando nos outros. 

Talvez aqui um grande e fundamental erro - a ideia de posse masculina. A mulher é "minha" justificando os atos dela como "meus" desejos (até, se calhar, o valente par de cornos que ela te andou a por durante anos). 

Mas a ideia de um homem possessivo foi romantizada por anos. O cavaleiro não pergunta à donzela se quer um cavalo para si, oferece parte do seu cavalo para que ela vá atrás. Tanto quanto romântica é a ideia de um salvamento masculino face às malvadas garras de uma noção vilã - não pode ser uma ação da própria princesa, não. Tem de ser a ação de terceiros (homens) para que a coisa corra bem e que a Disney lucre com o assunto.

Não desmerecendo o papel do homem como unificador de uma família pouco estrutural - muitas das vezes à base da porrada- mas o homem sempre foi menos treinado para uma estabilização de inteligência emocional. A razão tinha de levar avante face à emoção. Em vez das mulheres, que utilizavam "truques baixos" de fraca qualidade mas que para um homem adulto pouco razoável e com uma dose cavalar de insensatez chegavam e sobravam. Sempre foi das mulheres o poder dos "jogos mentais". Estranho que só com o passar do século é que começamos a ter na cultura pop personagens principais masculinos com um poder de persuasão e jogos emocionais como o Sherlock Holmes (o do Benedict Cumberbatch) e o Don Draper de Mad Men. Homens não eram emocionalmente racionais e muito menos racionalmente emocionais- ainda hoje não o são.

Hoje, num mundo repleto de opções, ainda existe a ideia errada de masculinidade tóxica. A ideia de que um homem é um poder. Ser homem é ser-se superior - até se chegar a casa e perceber-se que não sabemos cozinhar nem passar a roupa a ferro nem aspirar o chão.

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