Conversas de balcão:

Dois seres metem conversa comigo. Um é extremamente interessante, o outro tem um extremo interesse em mim. Para muitos é uma escolha óbvia, mas eu vou analisar o porquê de não ser assim tão fácil.
Numa primeira análise é fundamental perceber o que é que priorizamos, uma boa conversa argumentada com factos entre dois seres intelectualmente capazes ou uma palestra onde um ser tem menos conhecimentos que o outro. Muitos, por estranho que pareça, preferem a segunda, não gostam de argumentar e é mais fácil ouvir que discutir. Outros argumentarão até ao fim das suas vidas. É uma escolha. Mas define as nossas escolhas. Eu admito que prefiro argumentar no início de uma conversa que nada sei sobre o assunto e deixar a outra pessoa argumentar até saber alguma ramificação dessa mesma conversa e poder argumentar por aí. Mas isso sou eu, há pessoas que preferem argumentar sobre o que sabem logo de início e ramificar até uma parte onde não tem poder de argumentação.
As conversas - o diálogo - fomenta uma argumentação de princípios e ideias que podem facilmente ferir um ego mais débil e catapultar a discórdia para o insulto. É fácil cair nesse erro. E, para muita gente, isso está fora de questão. 
Há quem se renda a uma palestra por não conseguir diferir o ataque do argumento ou simplesmente porque sente que tem mais a aprender do que a ensinar. E isso é um excelente sinal de uma inteligência estável.
E aqueles que demonstram interesse? Aqueles que se dissolvem no significado - a nosso ver, muitas das vezes - pouco fundamentado?
Esses merecem de nós um trabalho redobrado. Porque nos estão a ouvir? Ouvem o que dizemos ou vêem os nossos lábios em movimento? Estão interessados nas nossas descobertas ou nos nossos feitos? Ou estão apenas a desejar uma aproximação? É algo que pode ser mensurável através da formalidade e da entrega dos argumentos. Não desejamos distância de alguém assim, mas desejamos mais aproximação - um real interesse naquilo que dizemos - não apenas um golpe de marketing.
Geralmente a simpatia não acompanha o argumento. A simpatia até acompanha a ideia de que não se tem um argumento. A gentileza de não querer responder é confundida com a ideia de que se veio de luvas para um combate de pistolas - e muitas das vezes é exatamente o contrário.
Com o tempo vim a desenvolver um amor platónico pela ideia de que é muito mais fácil entregar uma arma de brincar ao inimigo e fingir-se atingido por ela. É muito mais fácil e indolor fingirmo-nos alterados por argumentos que não apoiamos simplesmente porque fomos apontados como inflexivo quando muitas das vezes são inflexões que nos são propostas. 
Em suma, fiquei a dever um café abrangido de uma conversa que nos durou horas sobre a incapacidade financeira da minha geração. Provavelmente o outro ser ainda se está a achar no seu eximio direito de algo a qual fingi ter mudado a minha vida. 

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