"SIM SENHOR, O JOKER É BOM, MAS...":



O primeiro ponto que gostaria de frisar é: o filme saído em outubro deste ano, 2019, onde o ator Joaquin Phoenix interpreta o antagonista mais celebre das bandas desenhadas entrou de rajada para o meu top 10 de filmes favoritos onde estão alguns dos mais celebres como o "Laranja Mecânica".
Perceberam a relação, correto? Eu gosto de filmes de "ultra-violência" assim como gosto de um bom filme com um bom enredo e uma boa banda sonora. Digamos, utilizando o bom vernáculo, que "curto de um bom filme".
Portanto, posto isto posso começar a cascar nesta gente que me enche o feed do instagram com "mensagens subliminares do filme" ou quotes do personagem que, spoiler alert, nem sequer são ditas por ele ou se são, tem um propósito mais macabro do que aquele que uma simples foto de 5:5 não demonstra.
Tudo bem que as doenças mentais estão cada vez mais a ficar na berra, como se houvesse moda para doenças. Ainda assim, dizer em pleno 2019 que sofro de gripe das aves automaticamente transporta-me para um mundo onde o Facebook tinha sido criado há pouco mais de 4 anos e comer galinha era quase crime. Portanto, sim, ainda que não exista um Moda Lisboa para esquizofrénicos ou engripados, existe a romantização da doença durante algum tempo - e a esquizofrenia, doença de que Arthur Fleck sofre, é sim romantizada no populismo. Vi das mais diversas estirpes sociais a compararem depressões e maus relacionamentos a uma doença destas.
Deixo-vos em todo o vosso poder aproveitar a mensagem do filme da melhor forma, mas como a Inquisição fez há muitos anos atrás, também vocês estão a cair no mesmo erro. Estão a levar a questão demasiado à letra. A sociedade do filme é distópica e não representa necessariamente a nossa.
O filme Joker não é uma "critica à sociedade", é uma tentativa de humanização de um personagem de banda desenhada. Da mesma maneira que um tipo não ganha poderes por ter um anel verde vindo do espaço, também não é a ser esquizofrénico que se ganha o super-poder da aceitação social.

Não é que a ideia de ver um dos meus filmes favoritos a ser escrutinado em praça pública me desagrade. O que me tira do sério é estarmos a sair do cinema a fingir que todos temos um Joker dentro de nós. Sim, todos somos um pouco loucos e nem me vou alongar muito por aí - basta ver as legislativas para perceber que este país não bate bem da mona. Ainda assim não somos todos esquizofrénicos e todo o que for, por favor que se trate, o que não falta são meios.

O que eu gostei do filme foi a sua descontrução mais humana e adulta de um filme de banda desenhada. Watchmen era o meu filme de super-herois preferido até ver o trabalho do realizador d'A Ressaca. Está fantástico em todos os aspetos, e humaniza de maneira brilhante um louco psicopata. Agora quando sair o filme da Harley Quinn também não me venham dizer que querem uma relação daquelas que eu prontifico-me logo a não dialogar mais vez nenhuma convosco. Obrigado e bom dia.

Comentários

Mensagens populares