Servir e bem servir:

A servidão é um estilo de vida desmerecedor para muito boa gente, geralmente aqueles que mais a praticam a troco de dinheiro. Aqueles que andam a trabalhar para aquecer. Que gostam pouco de servir porque tem de o fazer, quer gostem ou não de o fazer ou de quem estão a servir. Não é fácil, confesso, e até confesso que é um exercício mais revelador de nós próprios do que do outro.

Alguém serve uma pessoa que começa uma conversação de maneira hostil e que nos tenta diminuir, há quem se ponha no lugar do outro e que perceba que aquele discurso diz mais sobre quem nos fala do que sobre nós e depois há quem parta para a agressão. Não estamos a lidar connosco, estamos a lidar com alguém com uma história diferente da nossa - umas vezes mais coesa, outras vezes é apenas uma confusão desmesurada. 

Contemplar o discurso alheio não olhando a competitividade de morais e boas maneiras é um exercício tramado e até anti-biológico. Não nos é costume abreviar a nossa história para caber na narrativa dos outros, queremos logo viver os nossos sonhos e vende-los a quem nos atinge. Nunca estamos preparados a dividir palco com desconhecidos, especialmente quando temos de dar o prémio a um desconhecido. Muito do poder por detrás da servidão manifesta-se pela facilidade com que se entrega o palco sem nunca se perder o holofote. 

Hé quem chame a essas pessoas de resolvidas, por ser fácil para elas emanar a força necessária para não se dissolverem em mil pedaços quando são destronadas. É, para quem vê de fora, um feito brutal, no entanto é apenas um truque que se chama "lidar com a situação". 

Não falas de temas sérios e delicados com o teu amigo mais brincalhão mesmo que ele demonstre maturidade nas suas decisões. Tu falas dos temas mais sérios àquele amigo que raramente se pavoneia das suas conquistas, dos seus feitos que para o comum são até um bocado acima do normal mas para ele foram apenas mundanos. Parte da maturação é isso, não olhar para o lado. A corrida de cada um é a corrida de cada qual. Nada faz mais sentido para os outros do que para nós. 

Portanto, para mim servir é um exercício de psicologia inerte que te provoca o sentimento de descoberta por uma boa história, uma boa confiança com o outro e contigo. Onde se aprende um pouco mais a ser humano e um pouco menos a ser-se um bicho do mato. 

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