A minha prima mais nova:

Tenho uma prima demasiado nova para saber o que diz e outra que ingressa a faculdade, tenho primas já crescidas e primos já formados. Tenho muitos primos, e algo que nos liga a todos - não, não é o sangue - é a parvoíce. Uns justificam-se, como eu e a minha prima mais nova de dentes de leite. Eu, porque sou músico, pouco letrado e com uma carreira invejável no ramo da parvoíce. E a minha prima porque está nessa idade de não ser levada a sério. Aliás, ainda bem que não é levada a sério, é ela que diz que devíamos de comer gomas num daily basis e que devíamos de subsistir à base de fritos e Ice Tea. É a mesma que questiona mais do que afirma e as afirmações que faz, geralmente são infantis porque assim têm de o ser.
No entanto, a vantagem da minha prima é a idade. Pode-se escapar de uma provocação ou de uma má piada com um "ela não quis dizer isso". Claro que quis, mas por bem da diplomacia familiar temos de ignorar a afirmação da pobre cachopa.
Já o mesmo não se pode refletir nos discursos dos meus primos, uns engenheiros, outros advogados, outros operadores de supermercado, todos votantes, todos importam numa conversa séria e todos devem ser ouvidos nessa conversa se assim o desejarem. Qual é o problema? Bem, o problema é que a opinião não fundamentada da minha prima mais pequena que ainda se baba para o babete é irrelevante para a discussão, mas a mesma opinião não fundamentada da minha prima jornalista já não é assim. É um "achismo", e um "achismo" dos bons, daqueles que magoa e achincalha.
"Eu acho que os homossexuais tem o mesmo direito que nós." Não há um comentário depreciativo, não há um "nós quem", não há nada. Há uma afirmação correta com uma premissa errada de que existe diferença entre o que a minha prima acha em relação a todas as orientações sexuais daquela casa e o que realmente acontece- esperem até ela saber que o irmão é gay. (Não é. Na realidade nem tem irmão. Mas gostei do pensamento e decidi verbaliza-lo.)
A melhor foi quando ouvi uma prima jurista a dizer que a estátua do Infante D. Henrique devia de ser vandalizada. "Soberbo, isto vai dar pontapé e estalo" achei eu, erroneamente. Não houve sequer um "está calada". Houve um encolher de ombros e quem não tinha nada a dizer contra simplesmente não dizia, ou não o dizia diretamente para ela. Claro que houveram vozes da resistência que catapultaram o meu interesse para a conversa, mas nenhuma que a fizesse pensar na barbaridade do que disse. Claramente que eu era o único com uma forte força contrária à dela que se desinibiu de um comentário idiota. "Tu és fascista, não contas."
Pelos vistos conto - e não sou fascista, sou do EAC (tenho de ver se ainda me faço sócio daquilo) - porque mereci resposta pronta e frontal a uma resposta pronta e frontal. Mereci aquilo que a minha prima mais nova não mereceu.
Mas a resposta foi algo que a minha prima mais nova ouviria mas num tom mais agressivo. Parte de crescer é ouvir o que ouvias quando em criança mas um bocadinho mais hardcore.
Houve um movimento crescente naquela discussão que fundamentou basicamente duas linhas de pensamento - um claro respeito ao patriotismo e à história do país e do outro lado uma força nova de rebeldia e desconformidade com a própria história e património.
É muito difícil perceber quem luta contra o racismo nesta sala quando os argumentos mais desenvolvidos de ambas as partes tendem para o umbigo. Sendo que raramente alguém aqui se manifesta de maneira clara sem soltar um insulto escandaloso às ideologias do outro. Mas foi uma discussão que durou pouco tempo com ambos os lados a ignorarem o outro.
"Pois, e o Benfica que empatou dois jogos seguidos?"
Conclusão: fui discutir política com a minha prima mais nova.

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